Viver na zona ribeirinha de Lisboa
Todos nós guardamos nas nossas memórias de infância os tempos em que o tempo não passava.
As brincadeiras na rua, as escondidas, a futebolada até haver sol.
Lembro-me da gráfica para onde a bola "fugia" e lá vinha aquele adulto pregar-nos um raspanete porque lhe podíamos estragar as máquinas.
Viver dentro de Lisboa tinha um sabor especial.
"Olha vamos à Baixa! " Lá íamos nós 20 minutos de caminho a pé.
" Olha hoje são os santos populares !" 10 minutos a pé sem problemas de estacionamento porque estávamos em casa.
Quando chegava à janela da rua e olhava para baixo, a paisagem era o Tejo, era como se fosse uma tela real para onde olhávamos todos os dias.
Aos Domingos de manhã íamos à catequese e depois à missa. Uma manhã religiosa com o padre Eugénio, esse grande Homem que nos contava histórias da vida sem tabus. Verdadeiras lições de vida de maus exemplos e consequências nefastas, um verdadeiro tutorial de coisas que não deveríamos fazer. A verdade é que ele tinha o dom da palavra e nós respeitávamos e assimilávamos os seus conselhos.
Os "Tabacos" era onde havia o polidesportivo onde jogávamos à bola. "Cuidado que isso é mal frequentado" dizia a minha mãe. Não fazia mal, grandes torneios de futebol de salão ali se fizeram.
Por detrás da igreja de Santa Engrácia, havia umas árvores com grandes folhas para alimentar os bichos da seda. Lá andávamos nós com as caixas de cartão, à espera que as larvas se transformassem em borboletas.
Adrenalina, adrenalina era andar nos carrinhos de esfera. A Calçada dos Barbadinhos tinha um declive bastante acentuado e o chão bastante acidentado, então era a loucura total as altas velocidades alcançadas em piso de quase corta mato.
Quando não tínhamos mais nada para fazer inventávamos corridas de caricas da coca cola, não vale a pena explicar porque as regras eram estranhas e nem sempre constantes.
Computadores obviamente nem sabíamos o que isso era, o nosso tempo era passado em grupo com os amigos e havia sempre alguma coisa para fazer, ideias não faltavam.
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