O Blog do João e outras histórias

Muito se tem falado ultimamente sobre a comunidade cigana, pois bem eu tenho o meu testemunho com base na minha vivência de infância. A Dª Dina era uma cigana que contra todas as regras casou-se com um “não cigano”, o Carlos Alberto. Era portanto uma cigana que tinha saído das normas rígidas internas da sua comunidade e lançou-se na aventura da integração social, vivendo com o seu marido e posteriormente filhas numa casa da zona ribeirinha de Lisboa. A Dº Dina era uma senhora de personalidade forte, causava conflitos com quem lhe fazia frente, mas ao mesmo tempo respeitava quem com ela convivia num clima são. Não era uma pessoa fácil, chegou a entrar em “vias de facto” com outras pessoas por situações que se calhar não valiam a pena e não havia necessidade. Eu morava no R/C e ela no 1º andar. Lembro-me perfeitamente de ter 5 ou 6 anos e de lhe pedir para ir para casa dela brincar com um lindo carro dos bombeiros que tinha em casa dela.  Ela tinha 2 meninas que obviamen...

A Carolina era uma miúda saudável, com uma infância feliz, próspera. Alguns namorados, todos eles de bom trato. A Carolina sabia detectar as más companhias à distância e dar-lhes desprezo. Não era a miúda mais popular da escola, mas também não queria ser, queria apenas ser feliz, ter aquele namorado normal, não precisava ser o mais bonito da escola.  Nas aulas estudava e tinha boas notas. Passava a tudo, mas também não era aluna de 18 e 19. Não era preciso. Assim viveu uma adolescência feliz.  Entretanto cresceu e os professores mais velhos reformaram-se. Vieram outros mais novos com outras exigências e com outros conceitos. O paradigma mudou, a Carolina passou a ter de estudar mais para sacar o 10zito no final do período. Só que as coisas não estavam fáceis.  Então a Carolina pensou, e se eu me começar a dar com alunos mais velhos e de outras escolas?  O meu estudo já não está a dar e se me relacionar com eles talvez consiga tirar algo de posit...

A nossa vida quer se queira quer não é formatada pelas pessoas que nos rodeiam. Um dia alguém disse que o Homem é um animal social, porque não consegue viver sem ser em sociedade.  Uns mais do que outros, mas a realidade é que de uma forma mais intensa ou não, todos vivemos e convivemos em sociedade. Se recuar um ano, a minha estrutura social era composta por : - Cônjuge - Família - Amigos - Colegas de trabalho - Outros  Nessa data nada me fazia prever que algo se alterasse.  A luta que eu e a minha mulher travámos durante muitos anos para que nos fosse possível dar alegria, felicidade, educação  e tanta coisa mais a uma criança que por vários infortúnios tivera o azar de não nascer num berço de ouro, era uma luta que não estava ganha nem perdida, mas que que se esvaía no tempo. Aquele dia em que recebemos a notícia que tinha chegado a nossa vez, deixou-me incrédulo, mas ao mesmo tempo confiante.  Tinha valido a pena persistir, lutar sem ...

Se um dia me perguntassem qual o país que gostaria de visitar, não seria certamente a Polónia. Polónia para mim era apenas a terra do Papa João Paulo II ou do Lech Waleza. Ou do país cuja capital dava o nome a uma organização de Defesa dos antigos países comunistas, o Pacto de Varsóvia. Quando aceitei ir trabalhar para Gliwice, nunca imaginei que estava a entrar no conhecimento de uma nova realidade, uma nova forma de ver a vida. O sol a nascer às 4:30 da manhã no Verão e de inverno às 3:00 PM já era completamente de noite. A 1ª mensagem que me transmitiram foi, miúdas e gajos que são armários e que bebem muito. E frio, muito frio. Em termos empresariais, o polaco ainda estava ligado muito à burocracia do período antes da queda do muro de Berlim.Carimbo, para cá, carimbo para lá. Mais importante que a assinatura. Cheques ? Não existem.Atrasas-te 1 dia num pagamento e lá vem a factura de juros de mora imediatamente. Carteis criados na venda de materiais. Todas as reg...

A Sic apresentou hoje uma reportagem interessante sobre a cortiça. Há que fazer justiça à produção deste composto extraído do sobreiro sob os mais variados aspectos. Primeiro porque é um investimento que requer paciência. 25 anos é o tempo médio desde que se planta um sobreiro até que se extraia a 1ª tirada de cortiça, a virgem. Daí que para os apressados do investimento e lucro imediato, este seja um negócio a descartar. Depois em estado adulto podem ter expectativas de tiradas de 9 em 9 anos. As zonas do Alto e Baixo Tejo, Alentejo e Algarve possuem condições climatéricas excelentes para a produção de sobreiros pelo que nestas zonas estamos numa situação privilegiada para a produção de cortiça. Há no entanto factos que a a reportagem da SIC não referiu e que têm a ver com as condições de mercado. Santa Maria da Feira sempre foi a região por excelência que concentra a industria deste sector. No entanto durante muito tempo esta concentração era não só excessiva como injusta já q...

Todos nós guardamos nas nossas memórias de infância os tempos em que o tempo não passava. As brincadeiras na rua, as escondidas, a futebolada até haver sol. Lembro-me da gráfica para onde a bola "fugia" e lá vinha aquele adulto pregar-nos um raspanete porque lhe podíamos estragar as máquinas. Viver dentro de Lisboa tinha um sabor especial. "Olha vamos à Baixa! " Lá íamos nós 20 minutos de caminho a pé. " Olha hoje são os santos populares !" 10 minutos a pé sem problemas de estacionamento porque estávamos em casa. Quando chegava à janela da rua e olhava para baixo, a paisagem era o Tejo, era como se fosse uma tela real para onde olhávamos todos os dias.  Aos Domingos de manhã íamos à catequese e depois à missa. Uma manhã religiosa com o padre Eugénio, esse grande Homem que nos contava histórias da vida sem tabus. Verdadeiras lições de vida de maus exemplos e consequências nefastas, um verdadeiro tutorial de coisas que não deveríamos fazer. A v...

Muitas vezes dou comigo a pensar se o meu avô Aristides voltasse por um dia (faleceu em 1989) para visitar Ponte de Sor e se deparasse com a realidade actual. - A Ponte que dá o nome à terra está arranjada e alargada. - A Câmara passou para o Largo da Feira. - O Largo da Feira passou a Jardim. - A Feira passou a ter um espaço próprio. - Foi criada uma nova zona habitacional / desportiva onde existiam hortas. - O Campo do Matuzarense acabou, mas surgiu um Estádio com bancadas e pista de tartan e até um campo secundários de treinos com relva sintética. - Novas piscinas cobertas e descobertas. - Continente, Intermarché, Lidl, Pingo Doce. - Pavilhão Municipal ao nível dos melhores do país e até um 2º pavilhão para dar resposta a tanta actividade dos jovens. - Montargil com Hotel de 5 estrelas. - Galveias com piscinas e zona lúdica espantosa. - Zona industrial cresceu exponencialmente. - Criado um aeródromo que alberga a Protecção Civil (Sede da Região centro), construção d...