Dª Dina, a Cigana

Muito se tem falado ultimamente sobre a comunidade cigana, pois bem eu tenho o meu testemunho com base na minha vivência de infância.
A Dª Dina era uma cigana que contra todas as regras casou-se com um “não cigano”, o Carlos Alberto.
Era portanto uma cigana que tinha saído das normas rígidas internas da sua comunidade e lançou-se na aventura da integração social, vivendo com o seu marido e posteriormente filhas numa casa da zona ribeirinha de Lisboa.
A Dº Dina era uma senhora de personalidade forte, causava conflitos com quem lhe fazia frente, mas ao mesmo tempo respeitava quem com ela convivia num clima são.
Não era uma pessoa fácil, chegou a entrar em “vias de facto” com outras pessoas por situações que se calhar não valiam a pena e não havia necessidade.
Eu morava no R/C e ela no 1º andar. Lembro-me perfeitamente de ter 5 ou 6 anos e de lhe pedir para ir para casa dela brincar com um lindo carro dos bombeiros que tinha em casa dela. 
Ela tinha 2 meninas que obviamente preferiam bonecas. 
Ela avisava-me que a Cristina, sua filha mais nova, não estava em casa para brincar, mas não me demovia dos meus intentos de querer ir brincar com o carro dos bombeiros.
A Dª Dina ficava tão orgulhosa por eu entrar na sua casa sem ser para brincar com as suas filhas, mas simplesmente para brincar com um simples carros de bombeiros…
Esta senhora tinha um carinho muito especial por mim, não tinha um filho, eram 2 meninas, e numa ou outra situação em brincadeiras na rua com outros meninos, ela passava e via que o “trinca espinhas” que era eu, podia estar a ser sujeito ao que hoje se chama “bulling” e que na altura se chamava  “levar umas cachaporradas dos mais velhos”, e me defendia.
Não era uma integração plena a dela na sociedade. 
Notava-se que havia alguma dificuldade de inserção pelos hábitos da sua própria comunidade, no entanto se tinha um amigo(a), era para toda a vida e até à “morte”.
Obviamente que os ciganos de que falamos nos dias de hoje são diferentes, são pessoas que vivem em comunidades fechadas e metade delas acomodadas ao RSI do Estado para o qual eu pago e muitos de vocês.
A Dª Dina de quem eu falo, tinha no entanto um papel “especial” na comunidade da freguesia de Santa Engrácia, e não consigo imaginar a minha infância, para além de muitas outras pessoas de quem tenho enormes saudades, sem esta senhora, um pouco diferente, mas com muito amor e carinho para dar, obviamente na sua própria escolha selectiva.
Hoje, em resumo, a imagem que tenho da comunidade cigana não é a melhor, mas acho que essa imagem que transparecem é também muito por culpa própria deles.
Existissem hoje mais Dªs Dinas a esforçarem-se por viverem inseridas na comunidade, em vez da vida em sociedade fechada, nómada, incógnita, ilegal por vezes com contrafacção, droga, e outras coisas mais, apesar de todos os defeitos e virtudes que a genética da sua raça lhes proporciona e provavelmente hoje não estaríamos a falar e a discutir questões raciais e de xenofobia que numa sociedade dita evoluída já não fariam sentido.
Haja esforço de quem manda, para programas de integração, mas também da comunidade cigana para aceitar e viver dentro das regras legais da sociedade onde escolheu viver.
Bem haja a todos os que tiveram a paciência de ler o meu testemunho até ao fim, mesmo que com ele não concordem de todo.

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